A Lista

 




Fiz uma lista.

Como uma obrigação que ninguém obriga, mas que sente ela na mente, gruda feito lêndea no fio de cabelo da consciência, incomoda como uma coceira bem no meio das costas fazendo cócegas no miolo do cérebro. Sentei, e me pus a escrever a tal seleção inútil de acontecimentos experienciados durante o ano... difícil. Sem dúvidas.

Longe muito de ser uma alma que transcende esoterismos, eu sou; a uma boa distância de figurar-me derrotista, também:  sou uma tentativa de ser equilíbrio e quis enxotar as lembranças especificamente ruins. Elas têm o seu lugar, decerto. Alguma coisa aprendi com experiências más, é possível. Quando nada, podemos evitar repetir erros.

Porém, expulsei pensamentos mesquinhos tão potentes, tão bem alimentados pela quase instintiva mania de maximizar aquilo tudo que machuca.

Eis o exercício das primeiras horas: ao decidir-me pela lista que ninguém pediu, bloquear o turbilhão de sensações ruins pelas quais passei, pois não foram únicas, e nem mais intensas, quiçá foram as mais importantes.

Foram 364 dias até aqui e eu posso garantir com segurança que nem todos os dias sofri. Houve períodos, mês, semana, dia, hora, minuto, houve momento agradável. Houve momentos bons. Outros ótimos. Houve situações leves, satisfatórias, guardadas na simplicidade do sorriso que escapuliu. Desde o mágico amanhecer até misterioso anoitecer...

A mensagem delicada e despretensiosa que chegou de forma privativa na rede social. A lágrima teimosa que insiste em rolar sem controle ao se emocionar diante de uma arte. Palavras amigas e confortáveis em momentos de desabafos. Quantos desabafos! Tanto consolo gratuito e energia gostosa emanada de gente que se mal conhece. Trocas inúmeras de experiências que acrescentam definitivamente para um crescimento de índole forte. O dia que parecia ser impossível levantar da cama...

Que vitória imensa ter vontade de estar de pé! Que prazer ter podido exercer aquela tarefa aparentemente simples e que custou um exército de determinação para ser concretizada. É preciso comemorar, sim, cada gesto, pois maravilhoso é sentir o sabor da vida que outro dia era amargor sem sentido.

Percebi-me menos frágil diante do caos. As deliciosas sensações abraçaram-me generosas a cada item que a lista pedia e me perdi nas certezas de que vivi o possível e me entrego às esperanças de que, sim, ter expectativas não é pieguices tolas. Estou viva e preciso acreditar.

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Gueu Nogueira - Geocomunicóloga soteropolitana: Misturo Geografia com Comunicação, bisbilhoto o cotidiano e escrevinho umas notas.


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