Rebele-se: aceite seu corpo e derrube o sistema que lucra com sua baixa autoestima.



Imagina você ter os pés amarrados, fraturados, curvados e, por fim, deformados,  desde a mais tenra infância, para que eles coubessem em sapatinhos que não passavam de 10 centímetros de comprimento e isso lhe conferisse status social, sensualidade, beleza, perante ao padrão de exigência e dedicação sexual masculino.

Os pés de lótus foi um costume que se iniciou no século X, nas altas classes chinesas, até virar padrão de beleza disseminado em todas as esferas sociais, e durou séculos, até a prática ser finalmente proibida em meados do século XX naquele país.

No século XV, por exemplo, as mulheres deveriam ser mais robustas, de quadris largos, seios fartos; na era vitoriana ( séculos IX), elas deveriam se espremer dentro de espartilhos apertadíssimos para caberem nas exigências de  cintura da época, que não deveria ser maior que 53 cm...  diz-se que daí surgiram, além de graves problemas de saúde com os órgãos internos, dietas estapafúrdias e os primeiros casos registrados de anorexia nervosa...

A partir dos anos 1990, os padrões de beleza incluíram ainda, além da magreza como ideal, mais intervenções estéticas cirúrgicas e preenchimento com silicones nos seios, bumbuns.

Ao longo dos séculos as mulheres têm sido convencidas de que precisam seguir um protótipo industrialmente imposto, mercadologicamente pensando em excluir corpos normais, saudáveis, do que seria belo, fazendo-as odiar seus corpos e acreditar ser necessário intervenções, por vezes invasivas, para se encaixar em um padrão artificial. Tal qual modelos de coisas, idênticas, mesmos números, mesmos tamanhos, mesmas cores...

Assim como coisas, o corpo feminino se transforma em objeto sujeito a inúmeras exigências para ajustar-se no novo modelo de produção vigente: na China do século XI, pés deformados e minúsculos; no ocidente, em meados do século XIX, cinturas finíssimas; anos atuais, corpos expostos à cirurgias para entrar em um medidas impossíveis de se conquistar de forma natural.


O mercado, a "indústria da beleza", comandado por poucos homens continuarão a ditar padrões universais e irreais para os corpos femininos e continuarão a lucrar infinitamente com as dores no corpo e na alma plantados intencionalmente em cada mulher, até que possamos romper com esta lógica extremamente cruel e infundada.

Obviamente, com a massificação em todas as mídias disponíveis e ainda mais agora com apoio da Internet, influencers, celebridades e toda sorte de bombardeios do que seria o corpo atual padrão a ser almejado e desejado, é difícil não ceder. É difícil não se sentir excluída..., mas vamos tentar um exercício diferente: ao invés de querer se encaixar um padrão aleatório que alguém inventou de forma totalmente arbitrária para excluir a maioria das pessoas  e render lucros com a perseguição desenfreada para se adequar ao padrão de corpo perfeito de hoje que é diferente do padrão de um passado recente e com certeza será diferente do padrão do futuro, nós, conseguíssemos, aos poucos e com muita verdade, gostar assim, de repente, deste corpo que nos sustenta, com as formas particulares de cada uma, com cada marca que conta nossas histórias, respeitando aquilo que nasceu com a gente. Nosso biotipo, nossas medidas, nossas peles. Imagina que impressionante a gente poder se olhar no espelho e gostar do que vemos. Sem interferências invasivas, sem cortes, sem queimaduras, sem ácidos, sem apertos, sem desconfortos físicos, sem desconfortos emocionais. Imagina?

Cada pedacinho. Fácil ninguém disse que seria, mas entenda, se conseguem nos fazer desejar ter todas o mesmo corpo, os mesmos narizes, as mesmas formas, os mesmos tamanhos, os mesmos cabelos como robôs feitos em série, por que desejar a si mesma com o modelo original de fábrica pode ser considerado tão utópico?

Pode parecer clichê - e é -, mas não existe ainda caminho melhor para se livrar das armadilhas da padronização dos corpos ditados pela indústria que o amor próprio. Por isso ele é tão combatido. Faça a sua própria revolução: ame-se. De verdade. E veja o mercado produtor da baixa autoestima e infelicidade feminina com o próprio corpo, ruir. 



Gueu Nogueira - Geocomunicóloga soteropolitana: Misturo Geografia com Comunicação, bisbilhoto o cotidiano e escrevinho umas notas.

Comentários

  1. Parabéns pelo texto, Gueu Nogueira!
    Mulher, isso é cura...
    Suas ideias são chamamento à uma revolução interna e para além... Basta de imposições, negação e castração do feminino tão primordial que reside em cada uma de nós. As convenções são fruto de um sistema capitalista famigerado, machista e extremamente cruel, assassino.
    Quero ser a primeira convidada para te ouvir, palestrante!
    É tão bonito acessar essa sua lucidez, que parte de um lugar sensível e de muita autoridade --- porque você é dessas --- sem o clichê dos manuais de "autoajuda", que, ao meu lume, nada ajudam, sequer provocam um querer reflexivo e revolucionário.

    Ahazô, bixa!💃🏿👏🏿

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